sexta-feira, 13 de março de 2009

Uma história para todos...
"A mãe tinha saído de manhã cedo e tinha-os deixado ao cuidado de Marina, uma jovem de dezoito anos a quem às vezes contractava por umas horas para que se encarregasse deles em troca de algumas moedas. Desde que o pai tinha morrido, as coisas eram demasiado más para arriscar o trabalho faltando de cada vez que a avó ficava doente ou se ausentava da cidade.
Quando o noivo da jovenzinha telafonou para a convidar a dar um passeio no seu carro novo, Mariana não hesitou muito. Afinal, os meninos estavam a dormir como acontecia todas as tardes, e não despertariam até às cinco.
Mal ouviu a buzina agarrou na bolsa e desligou o telefone. Tomou a precaução de fechar a porta do quarto e guardou a chave no bolso. Não queria arriscar-se a que Pancho acordasse e descesse as escadas para a ir buscar, porque afinal só tinha 6 anos e num descuido podia tropeçar e magoar-se. Além disso, pensou, se isso sucedesse, como explicaria à mãe que a criança não a tinha encontrado?
Talvez tivesse sido um curto-circuito na televisão acesa ou nalguma das lâmpadas da sala, ou talvez uma faúlha no fogão de lenha; o caso é que, quando as cortinas começaram a arder, o fogo alcançou rapidamente as escadas de madeira que levavam aos quartos.
A tosse do bebé devido ao fumo que se infiltrava por debaixo da porta acordou-o. Sem pensar, Pancho saltou da cama e fez força no trinco para abrir a porta, mas não conseguiu.
De todas as maneiras, mesmo que o tivesse conseguido, tanto ele como o seu irmão de meses teriam sido devorados pelas chamas em poucos minutos.
Pancho gritou a chamar Marina, mas ninguém respondeu ao seu chamamento de auxílio. Por isso, correu para o telefone que havia no seu quarto (ele sabia como marcar o número da sua mamã), mas não havia linha...
Pancho deu-se conta que devia tirar o seu irmãozinho dali. Tentou abrir a janela, mas era impossível para as suas pequenas mãos destravar o dispositivo de segurança e ainda que o tivesse conseguido teria também de soltar a rede de arame que os seus pais tinham instalado como protecção.
Quando os bombeiros terminaram de apagar o incêndio, o tema da conversa de todos era o mesmo: "Como pôde aquela criança tão pequena quebrar com o cabide o vidro e a seguir o gradeado?"
"Como pôde carregar o bebé na mochila?"
"Como pôde andar pelo alpendre com um tal peso e descer pela árvore?"
"Como pôde salvar a sua vida e a do seu irmão?"
O velho comandante dos bombeiros, homem sábio e respeitado, deu-lhes a resposta:
- Panchito estava sózinho... Não tinha ninguém que lhe dissesse que não ia poder."
"Contos para pensar" de Jorge Bucay

2 comentários:

Maria Santos disse...

História triste com final feliz! Dá que pensar! Beijinhos e já tinha saudades de vos ler!

rita disse...

é pá! tava complicado ler isto.
por causa destas e de outras parecidas é que a minha filha anda sempre comigo atras(lol).